Baby Reborn e Algoritmo: Quem Está Brincando com Quem?

Baby Reborn e Algoritmo: Quem Está Brincando com Quem?

A Era do Vídeo Curto e da Mente Dispersa

Nunca foi tão fácil falar — e ao mesmo tempo, nunca estivemos tão distantes de dizer algo com profundidade.

Vivemos na era das trends, dos vídeos de 15 segundos e das opiniões instantâneas. Cada nova polêmica se transforma em mais uma onda para surfar no algoritmo, e qualquer tentativa de aprofundar um debate se perde na espuma do que é passageiro. O conteúdo não precisa mais ser relevante — basta ser raso, rápido e viral.

Mas essa pressa tem um preço.

Enquanto corremos para “não perder o timing”, estamos perdendo algo bem mais valioso: o tempo de pensar, o tempo de sentir, o tempo de questionar. A sociedade está adoecendo numa overdose de dopamina digital — essa descarga química que alimenta vícios, mas não nutre consciência.

E por trás disso tudo, um sistema que lucra muito com a nossa distração.

Os donos do algoritmo não se importam com o que você pensa, desde que você fale — desde que você gere dados, cliques, monetização. A ilusão da liberdade digital nos prende a um ciclo de repetição superficial, onde todo mundo comenta, mas quase ninguém estuda. Compartilha, mas não reflete. Grita, mas não escuta.

Este artigo é um convite à pausa. À respiração. À retomada do discernimento.

Vamos olhar com mais consciência para o que estamos consumindo, criando e propagando. Vamos entender o que tudo isso está fazendo com o nosso cérebro.

Baby Reborn: A Polêmica no Brasil

Antes de falarmos sobre os mecanismos por trás desse comportamento, vale observar um exemplo recente que tomou as redes sociais no Brasil.

Nos últimos dias, uma onda de vídeos com babies reborn — bonecas hiper-realistas — invadiu os feeds dos brasileiros. Mas não estamos falando apenas de um conteúdo inocente.

O que vem preocupando profissionais da área de comunicação e comportamento é a forma como esse tema explodiu em popularidade e se tornou mais um exemplo da lógica que rege as redes sociais: manipular a atenção coletiva para alimentar o algoritmo.

Independentemente do valor terapêutico que essas bonecas possam ter em outros contextos — o que cabe a psicólogos e terapeutas avaliarem —, o que vemos é o uso desse case como isca. Mulheres adultas gerando conteúdo com cenas extremamente roteirizadas de “maternagem” de bonecas, enquanto outras pessoas entram no jogo, criticando ou defendendo, mas todos, sem perceber, retroalimentando o mesmo ciclo de engajamento.

É como se houvesse uma força invisível — um “alguém” por trás dos bastidores — que planta o tema e assiste a sociedade entrar em combustão por conta própria.

Ganha quem? O algoritmo, claro.

A pergunta que fica é: qual outro propósito há por trás de um conteúdo onde uma mulher adulta simula a maternidade de um boneco, se não o de engajar, ganhar likes?

Mais uma vez, a polêmica vira palco. Mas o conteúdo que deveria nutrir a reflexão, vira performance vazia de sentido. Nessa guerra de cliques, perde-se a chance de usar a comunicação como ponte para evolução, consciência ou autoconhecimento.

Mas o caso dos babies reborn é só a ponta do iceberg. Existe um padrão mais amplo e preocupante que vem se repetindo em diversos temas.

A Preguiça de Pensar

Vivemos na era da repetição sem reflexão. Um criador viraliza um conteúdo e, em questão de minutos, milhares de perfis replicam a mesma ideia — com a mesma dancinha, o mesmo áudio, a mesma legenda.

O que era para ser comunicação se tornou imitação em massa. E, no meio disso tudo, a pergunta essencial se perdeu: o que esse conteúdo está me ensinando?

A superficialidade se tornou o novo padrão ouro. Raramente alguém pausa para se perguntar: “isso faz sentido para mim?”, “isso contribui para minha construção pessoal ou profissional?”, “isso está alinhado com meus valores ou só está me anestesiando por alguns segundos?”.

O tempo de pensar deu lugar à urgência de postar. A responsabilidade de filtrar, entender e traduzir virou ansiedade de “não perder o timing da trend”.

Estamos vivendo o colapso da curadoria. Em vez de selecionar, aprofundar e contextualizar ideias, estamos apenas replicando o que está em alta — muitas vezes sem nem saber o motivo.

Isso é perigoso, porque abandona nossa capacidade de formar pensamento crítico e entrega nossa atenção ao controle invisível de algoritmos que só querem uma coisa: mais tempo de tela.

Essa preguiça de pensar enfraquece a consciência individual e empobrece a consciência coletiva. Quando todos dizem a mesma coisa, ninguém está realmente dizendo nada.

As discussões que poderiam ser construtivas se tornam apenas ruído. E como consequência, vamos deixando de lado a capacidade de tomar decisões com autonomia, sensatez e intuição — e passamos a reagir ao que está na moda, ao invés de agir com propósito.

É como se estivéssemos em uma sala cheia de gente repetindo frases soltas, esperando aprovação, mas sem escutar de verdade. Essa dinâmica alimenta a confusão interna, dilui nossa identidade e nos torna mais suscetíveis à manipulação.

Somos cocriadores da realidade. Mas como cocriar com consciência se estamos apenas reagindo, repetindo, rolando?

Nesse ritmo, corremos o risco de abandonar o nosso papel mais nobre: o de ser ponte entre o saber e o sentir, entre a informação e a sabedoria.

Porque sabedoria não é o que viraliza — é o que transforma.

Não é coincidência que nosso cérebro esteja cada vez mais cansado, disperso e sensível. Isso tem uma explicação biológica — e, infelizmente, também tem sido usada como ferramenta de manipulação.

O vício do “curtir”

Vivemos uma era onde o cérebro humano se tornou um campo fértil para a manipulação.

As redes sociais, projetadas estrategicamente para ativar nossos circuitos de recompensa, reforçam padrões de comportamento que geram vício, alienação e desgaste emocional.

A dopamina — neurotransmissor associado ao prazer e à motivação — é liberada toda vez que recebemos uma curtida, um comentário, um novo seguidor. Isso cria um ciclo viciante que nos mantém rolando, clicando e voltando, como um jogador puxando alavancas de caça-níqueis em um luxuoso cassino em Las Vegas.

O que começa como distração se transforma em compulsão.

Segundo Temple Grandin, o cérebro de pessoas com espectros de sensibilidade mais intensos — como o autista — sofre sobrecarga com estímulos em excesso.

Se pensarmos bem, estamos todos vivendo, em algum grau, esse mesmo excesso: múltiplas notificações, estímulos visuais vibrantes, sons, comentários, debates polarizados… Nosso cérebro comum está sendo moldado por ambientes digitais que favorecem a pressa, a comparação, o julgamento rápido.

E há um agravante: a ilusão de pertencimento. Desde os tempos mais remotos, pertencer a um grupo era sinônimo de sobrevivência. Nossos cérebros ainda carregam essa programação.

Por isso, a validação social — curtidas, elogios e compartilhamentos — se tornou arma tão poderosa. Mas, ao buscar esse tipo de reconhecimento constante, perdemos contato com o nosso próprio termômetro interno: o que eu realmente penso? O que eu realmente sinto?

Esses ambientes digitais também reprogramaram nosso tempo de atenção. Conteúdos cada vez mais curtos, vídeos de menos de 30 segundos, mensagens mastigadas e repetições virais diminuem nossa tolerância ao aprofundamento.

Como resultado, surgem adultos que já não conseguem mais ler um texto reflexivo com mais de dois parágrafos sem se distrair, ou que sentem “ansiedade” diante de um vídeo de três minutos.

Como explica a neurociência, a recompensa instantânea hackeia a motivação duradoura. E, aos poucos, nos condicionamos a buscar o alívio imediato ao invés de fazer perguntas mais profundas sobre nossa existência, nosso propósito e nossa responsabilidade social.

Quando nos acostumamos à facilidade, à velocidade e ao “pronto para usar”, vamos, sem perceber, atrofiando nossa capacidade de pensar criticamente.

E isso é um perigo. Porque o que parece entretenimento inocente, na verdade, fortalece estruturas de poder que lucram com nossa distração, com nosso tempo e com a nossa atenção dividida.

Sempre me refiro e faço o convite a uma direção oposta: lembrar quem somos. E quem somos não cabe num Reels. Somos seres complexos, feitos de instinto, intuição, inteligência e alma. 

É urgente dar um passo atrás e construir uma nova relação com a internet. Mais crítica, mais consciente, mais humana.

Qual é a sua escolha: permitir que o algoritmo molde a sua mente — ou usá-la para construir um mundo com mais sentido, mais reflexão e mais essência.

E o que isso tem a ver com o seu feed de Reels ou com aquele TikTok que você assiste antes de dormir? Tudo!

O Algoritmo, Senhor das Massas

Você já se pegou rolando o feed do Instagram ou TikTok, sem nem perceber que se passaram 30 minutos? Pois é. Isso não é coincidência, é design — e um design que manipula os circuitos de recompensa do seu cérebro.

A dopamina, conhecida como o “neurotransmissor do prazer”, é liberada quando vivenciamos algo que nos dá uma sensação de bem-estar — seja uma curtida em um post, um elogio, ou um vídeo que nos diverte.

Essa liberação cria um ciclo: estímulo → prazer → repetição. É o mesmo sistema que nos faz comer chocolate, se apaixonar ou ficar viciados em apostas.

Agora, imagine esse sistema sendo explorado por plataformas digitais. Reels, Shorts e vídeos curtos são estruturados para provocar picos de dopamina constantes — pela novidade, pela surpresa, pelo humor rápido, pela polêmica ou pelo “plot twist” emocional.

Como diria Lanier, “você está recebendo o equivalente a petiscos e choques elétricos usados nos laboratórios de behavioristas”, comentando sobre recompensas e punições ligadas aos experimentos de domesticação de animais.

E, sim, logo você responde ao estímulo automático: vê um vídeo, sente prazer, quer mais, e mais rápido.

As plataformas sabem que a imprevisibilidade vicia. O que vem no próximo scroll? Será engraçado? Vai me chocar? Vai me validar? Essa “pequena dose de dopamina”, como chamou Sean Parker (ex-presidente do Facebook), é suficiente para manter bilhões de pessoas conectadas e mentalmente presas.

A mecânica é a mesma que as usadas em caça-níqueis — e o objetivo também: engajamento, tempo de tela, lucro.

Jaron Lanier alerta que as redes sociais são, de fato, “impérios de modificação de comportamento”, cujo maior produto não é conteúdo — é você. Cada clique, cada like, cada visualização está sendo utilizado para ajustar o que você verá a seguir. E quanto mais polarizador, mais emocional e mais viciante for o conteúdo, melhor para o algoritmo.

Mas o problema vai além do tempo gasto. A repetição desses estímulos molda nossa atenção, nossos valores e até nossas relações.

Estímulos rápidos nos condicionam à gratificação instantânea e à perda de interesse por conteúdos mais profundos. Recompensas sociais fáceis nos tornam dependentes de aprovação externa. E, gradualmente, como alerta Lanier, “isso está corroendo o alicerce de como as pessoas se comportam umas com as outras”.

Este não é só um problema tecnológico. É um risco existencial. Um sinal de que precisamos despertar, antes que o scroll automático roube nossa capacidade de pensar, sentir e viver com presença.

Se já entendemos o que está acontecendo, a pergunta agora é: o que vamos fazer com isso?

Chamado à Responsabilidade

Chegou a hora de fazer uma pergunta séria e necessária: o que estamos escolhendo amplificar quando usamos a internet?
Será que estamos usando as redes sociais como um espelho do nosso propósito — ou apenas como um eco do que já está saturado?

No meio da avalanche de tendências, desafios, frases feitas e conteúdos rasos, é fácil se perder. Mas é exatamente por isso que precisamos nos lembrar do nosso papel.

Cada publicação, cada história, cada vídeo que postamos é uma escolha. E cada escolha comunica algo. Se hoje você está nas redes para gerar renda — e sim, o dinheiro é importante na jornada terrena — que seja de um jeito que também gere sentido, valor e evolução para quem te acompanha.

Uso Consciente

Usar a internet de forma consciente não significa perfeição. Significa compromisso.

Compromisso com você mesma, com a sua saúde mental, com o seu tempo e com a sua energia.
Compromisso com as pessoas que te leem, te assistem, te seguem.
Compromisso com o mundo que estamos ajudando a construir — mesmo que com pequenos passos.

Você não precisa ter milhares de seguidores para ser relevante. Se você tem um cliente, uma amiga, um familiar que consome seu conteúdo, você já é uma influência.

E isso é poderoso. Porque quando você escolhe postar com intenção, você abre um campo. Você planta uma semente. Você vibra uma frequência que inspira, transforma e toca o outro — às vezes, sem nem saber.

E tudo começa com o despertar da consciência. Entender como os algoritmos agem, como a dopamina nos prende, como somos direcionados o tempo inteiro a consumir e reagir.

A tecnologia, quando usada sem consciência, se torna uma prisão invisível. Mas quando olhada com clareza, pode ser uma aliada no processo de expansão.

Por isso, se não dá para fugir das redes, que possamos, ao menos, usar com lucidez.

  • Respirar antes de postar.
  • Sentir antes de replicar.
  • Refletir antes de reagir.

Resgatar a inteligência crítica, a criação intencional e a coragem de não seguir a massa é um ato revolucionário — e profundamente espiritual.

É dizer ao mundo: “eu existo, penso, sinto e escolho com consciência”.

E talvez esse seja o nosso verdadeiro trabalho aqui: deixar uma trilha de luz num lugar onde todos só correm por aplausos.

O Caminho de Volta

No meio do ruído, o que precisamos mesmo é de silêncio.

Menos reação automática, mais contemplação consciente. Desacelerar é subversivo. Respirar antes de postar é revolucionário.

Ao longo desse artigo, falamos sobre os impactos neurológicos e emocionais do uso inconsciente das redes. Discutimos como o algoritmo se alimenta da nossa pressa e da nossa ausência — ausência de presença, de intenção, de profundidade.

Relembramos que comunicar é, acima de tudo, um ato político, espiritual e estratégico. Cada palavra, imagem e vídeo carrega em si um campo energético. E você é responsável pelo que alimenta — em si mesma e no mundo.

Por isso, antes do próximo post, da próxima trend, da próxima opinião… se pergunte:

Se você deixasse de postar por uma semana, o que realmente sentiria falta?
Seria da conexão com as pessoas? Ou da pequena, mas sedutora, dose de dopamina diária?

Deixe nos comentários o que essa reflexão te trouxe.
E se isso tocou você, talvez seja a hora de criar com mais alma — e menos ruído. 🌿

Fique em paz. Até a próxima.

Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *